Com a crise hídrica de 2015 os paulistanos passaram a levantar questões sobre a água na cidade. Como é possível ver as torneiras secarem em um lugar entrecortado por dois grandes rios e que sofre constantemente com enchentes?
Assistimos a reportagens e mais reportagens sobre os córregos do município e recordamos que, embaixo de todos esses prédios, carros, avenidas, casas, shoppings e viadutos, há inúmeros cursos d’água invisíveis. Dois deles delimitam a Vila Pompéia: os córregos Água Preta e Água Branca, esse último também conhecido como Sumaré. E, mesmo ocultos quase o ano todo, parece que de vez em quando os dois fazem questão de serem lembrados pelos moradores do bairro.
As enchentes não são culpa do rio, já que é natural que ele inunde e alague as suas encostas, mas da falta de planejamento e de uma canalização que não atende à vazão de suas águas há muito tempo. A Pompéia cresceu sem se importar nem com o Água Preta nem com o Água Branca, e fazendo ainda pior: apertando os dois em canos, sufocando-os. “São Paulo sofre as consequências de decisões equivocadas sobre o destino de suas águas. Os rios foram tratados como um problema, e não um recurso valioso”, afirma Andrea Pesek, arquiteta e integrante do coletivo Ocupe e Abrace.
Não à toa, os córregos costumam explodir. De acordo com o Centro de Gerenciamento de Emergências da Prefeitura de São Paulo, órgão responsável pelo monitoramento das condições meteorológicas da cidade, nos últimos 9 anos foram registrados 103 pontos de alagamentos intransitáveis na região, principalmente nas Avenidas Pompéia, Sumaré, Antártica, Francisco Matarazzo e nas ruas Turiassú, Homem de Melo, Venâncio Aires, Cayowaá, além da Praça Marrey Junior.
Agora, a SPObras promete entregar a solução final para evitar esse transtorno, com a construção de duas galerias maiores. Mas até quando isso será suficiente?
Outras soluções
“As obras para conter enchentes em São Paulo são um remendo para um equívoco”, garante Andrea. Segundo a arquiteta, há alternativas que já estão sendo aplicadas em outras regiões em São Paulo, como o jardim de chuva e o sistema de biorretenção. Essas estruturas recebem o escoamento de água e acumulam os excessos, formando poças que se infiltram gradualmente no solo, auxiliando o sistema de drenagem a trabalhar dentro de sua capacidade mesmo durante os picos de precipitação.
Algumas dessas soluções são iniciativas não do poder público, mas dos próprios cidadãos que estão empenhados em reverter o processo de desertificação da cidade. O coletivo Ocupe e Abrace, do qual Andrea faz parte, revitalizou a praça Homero Silva, que abriga as nascentes do Água Preta. “Ao longo de 3 anos restauramos oito nascentes do riacho e construímos dois lagos com plantas aquáticas e peixes, contando com a ajuda da comunidade”, explica a arquiteta. O lugar foi rebatizado de Praça da Nascente e lá as águas correm livres. Depois, o Água Preta está todo canalizado.
“O rio não morre, ele está vivo, ainda que soterrado em lugares que poderiam tê-lo incorporado à paisagem”, conta Andrea.
Na Pompéia, o rio também vive em placas de trânsito alertando sobre o alagamento da região, mas um ouvido mais atento pode escutá-lo cruzar alguns bueiros, como na rua Ciridião Buarque. Na praça Rio dos Campos, é possível até ver o Água Preta correndo pelas grades da calçada.
Até a década de 1990, quem ia ao Sesc Pompéia podia ver e tocar o riacho, mas ele foi ficando cada vez mais oculto. No prédio mais importante do bairro só é possível encontrar um riacho artificial, feito em homenagem a um outro rio: o São Francisco.
Periodicamente a iniciativa Rios e Ruas realiza passeios a pé ou de bicicleta para percorrer os cursos dos rios da cidade e foi em uma dessas expedições que a arquiteta Andrea Pesek resolveu mudar a sua relação com São Paulo: “o trabalho que fazemos na Praça da Nascente é fruto dessa nova percepção que temos – a cidade como manifestação do nosso sonho coletivo, que honra a natureza, as nascentes, os rios e as pessoas. Estamos fazendo pequenas revoluções gentis e extremamente potentes. Esse movimento para libertar e honrar nossos rios já começou, já está acontecendo.”
Leia também: Enchentes na Pompéia: será o fim?
2 Comentários
[…] Pompéia e é conhecida como Praça da Nascente. Esse nome vem do fato de que é lá que nasce o córrego Água Preta, uma das divisas do bairro. O que chama a atenção na praça é a sua estrutura, que segue a dos […]
[…] “O rio não morre, ele está vivo, ainda que soterrado em lugares que poderiam tê-lo incorporado à paisagem”, conta Andrea Pesek. Vila Pompeia […]